Desencannes
A coluna de quarta passada, na Casa do Galo:
Essas duas últimas semanas ferveram com notícias (e colunas) sobre o Cannes Lion’s ou Festival de Cannes, aqui em terras tupiniquins. O Brasil é sempre bem representado, desde a época que um tal de Washinton Olivetto (também conhecido como Golden Boy, na época) surgiu para a propaganda, como Pelé surgiu para o futebol.
Todos os anos, nossos talentosos publicitários abocanham vários prêmios em diversas categorias, que não vou detalhar aqui por que desconheço a maioria. Vocês devem estar se perguntando: o cara trabalha com isso, adora a criação, e não sabe quais são as categorias premiadas em Cannes? Pois é, não sei e dou a mínima para esse evento. Posso parecer arrogante, mas sinceramente, não enxergo qual a contribuição dessa premiação (a maior, dentre tantas outras) para o mercado publicitário brasileiro. Talvez seja a valorização do profissional, mas são poucos os que nos representam por lá. E será que são os melhores mesmo?
Temos autoridades da propaganda mundial julgando a propaganda mundial. Ótimo. Sabemos que o julgamento é de qualidade (até que se prove o contrário). Reúnem-se no mesmo local, diversas agências e profissionais do mundo inteiro para uma semana de muita festa. Os grandes executivos aproveitam para estreitar relações e fechar novos negócios. Outros aproveitam para cair na esbórnia mesmo. Além, é claro, de movimentar-se muito dinheiro.
Para o festival, muitas das peças que concorrem são fantasmas, como falou o Alessandro Ribeiro essa semana aqui na Casa do Galo. Eu questiono muito isso. Para que inscrever essas peças? Para afagar o ego inflado do criativo? A propaganda não ajudou ninguém a melhorar a sua imagem, a vender mais ou mesmo transmitir seus valores. Talvez somente a do publicitário. E que tempo se perde fazendo isso. As pessoas que trabalham nessa área reclamam tanto do tempo curto que têm para aproveitar a sua vida, pois trabalham muito. Será que deixando de criar peças para festivais, não poderiam curtir a vida só um pouquinho mais? Não sei dizer. Alguns gostam de morar nas agências mesmo.
O Nizan Guanaes (sempre ele!) falou** essa semana que sua agência, a África, não participa mais de festivais nem inscreve suas peças em Cannes, pois não é o propósito da agência, que é trazer o melhor resultado para os seus clientes. Certo ele! Volto a lembrar o movimento Propaganda com Guaraná, que lancei há algumas colunas atrás. Se os homens (e as mulheres) de frente da criação deixarem de se preocupar com as premiações e passarem a focar mais no resultado, teremos muito mais qualidade na propaganda.
Um abraço e até a semana que vem.
*Com a licença poética do site homônimo.
** Me desculpem, mas não consegui localizar a notícia. Recebi através da newsletter do Meio&Mensagem e acabei apagando antes da hora.