30 julho 2007

O Universo da Publicidade - Parte 5

FAQs

A busca por um estágio. Como montar e apresentar seu portifólio.

Seria mais uma noite de uma pacata segunda-feira no bar da faculdade, se não fosse um acontecimento que mudaria a sua vida acadêmica (afinal, até então, vida acadêmica pra você era puxar quinze quilinhos de rosca direta e levantar 30 no supino):

- Gente, arrumei um estágio. – disse aquela patricinha que não vivia sem uma chapinha no cabelo e uma calça legging. Mas que naquela pacata segunda-feira no bar da faculdade estava vestindo um sociável terninho-preto-básico.

Todos se levantaram pra cumprimentá-la e foi aí que você percebeu que, na verdade, era o único que ainda vestia bermuda, regata e chinelo.

A agora estagiária vem em sua direção pra receber as suas congratulações. Em estado de choque, você dá um abraço, um beijo e a felicita:

- Filha da puta!

É, a coisa ta feia pro seu lado. Chegou a hora de arrumar um estágio. E é pra isso que estamos (sujeito oculto Casa do Galo) aqui. Neste post, você, estudante de Publicidade/Marketing/Afins, encontrará algumas dicas, que podem ajudar na busca pelo estágio, e algumas experiências vividas por mim nos meus quatro anos de bebedeira, digo, faculdade (as dicas vêm dessas experiências). Vamos lá!

Quero ser marketeiro mesmo, e daí?

E daí que o seu caminho pode ser um pouco mais difícil, porém mais justo. Se você não se julga moderninho e alternativo suficiente pra trabalhar em agência, vá para os anunciantes e veículos. Nesses lugares, você vai passar por algo que vai te dar muita dor de barriga: o Processo Seletivo para Programa de Estágio. Sim, isso pode ser utopia no mundo criativo, mas no mundo real é mais que rotineiro.

Cadastros, envio de currículos, provas, dinâmicas em grupo, mais envio de currículos, entrevistas com psicólogas, entrevistas com os gestores das áreas (já falei envio de currículos?) etc. Fases e mais fases até a conquista da vaga. É claro que o grau de complexidade dessas fases não é de nenhum O Aprendiz, mas a cada ano as empresas buscam estagiários melhor preparados. Por isso a dica 1:

Dica 1 – Quem as empresas procuram?

Logicamente, o perfil do colaborador-estagiário pode variar de empresa pra empresa, mas algumas coisas são básicas, importantes e podem te ajudar a eliminar concorrentes.

• Fale, no mínimo, dois idiomas fluentemente. Tente o português, já que o inglês ELAS (as empresas) já consideram que você fale. Muitos lugares já pedem até uma terceira fluência, como o espanhol, o alemão ou o francês, dependendo da nacionalidade da empresa;

• Experiência no exterior conta e muito. Nem que você apenas tenha lavado pratos em Nova Iorque ou servido café em Londres. Lembre-se, ELAS querem saber como você se vira em situações difíceis e adversas;

• Simpatia, saber trabalhar em grupo, pró-atividade, facilidade em se comunicar com qualquer tipo de gente (ou seja, você devia ter desobedecido a sua mãe e ter falado com estranhos quando criança) e boa aparência ainda contam bastante. Veja bem, boa aparência não significa ser bonito(a). Portanto, tudo que você diz ser no seu CV, tem que provar na hora do “vamo vê”;

• E, obviamente, esteja e seja sempre antenado, atualizado e ligado em tudo que acontece. Mas não bitole. Os caras também não vão te perguntar sobre a bolsa de valores de Pequim, mas podem perguntar coisas atuais sobre o seu cotidiano. Quer um exemplo? Um amigo estava na última fase do processo seletivo para as Lojas Americanas. Entrevista com um dos diretores da empresa. O tal diretor perguntou o que esse amigo mais gostava de fazer e ele respondeu: surfar. Eles passaram o tempo todo da entrevista conversando sobre pranchas, praias e etapas do circuito de surfe brasileiro. No dia seguinte ele estava contratado.

Quais empresas eu devo deixar meu CV?

Em primeiro lugar, “deixar CV” não existe mais. Já ouviu falar de internet? Praticamente, todas as empresas hoje possuem em seus sites um espaço para cadastro e/ou envio de currículos. “Ah, mas eu fiquei sabendo de uma vaga que tinha que entregar o CV pessoalmente”. Essa vaga não é pra você.

Em segundo lugar, empresas pra se cadastrar e concorrer a uma vaga, não faltam. A chamada Área de Marketing é muito ampla. Há vagas tanto para os próprios departamentos de Marketing como para departamentos de Comunicação, RH, Comercial etc.

Mas aí vão algumas das mais desejadas pelos estudantes: Natura, IBM, Unilever, Pirelli, Grupo Pão-de-Açúcar, Telefonica, Banco Santander, Grupo Abril, SBT. Quem quiser indicar outras, fique à vontade nos comentários.

Eu sou criativo, olha o meu All Star.

Se você escolheu fazer Criação, senta e chora. Você será castigado pela escolha que fez. Mas isso é só no começo, depois fica legal. Só que é, justamente, sobre o começo que vamos falar agora. Oquei, você se diz criativo, tem um belo All Star, uma camisa xadrez “stáile” e óculos de grau de cineasta. Mas você sabe que raios vai fazer numa agência de Publicidade? (Leia ou re-leia o artigo do Mauro) No departamento de Criação você não tem muita opção: ou vai ser diretor de arte ou redator. O caminho é muito parecido para os dois.

Dica 2 – Quais os primeiros passos?

O primeiro passo é deletar o termo Curriculum Vitae da sua vida. Substitua por portifólio. O segundo passo é descobrir o que é isso. Seu portifólio será, simplesmente, a sua vida daqui pra frente. É onde você vai registrar/arquivar/guardar/agrupar/mostrar os seus melhores trabalhos. Sim, o cara que vai te avaliar não quer saber onde você estuda ou se você é pró-ativo, ele quer saber se você é mesmo criativo, oras. Quer ver os seus trabalhos, o seu PORTIFÓLIO.

“Mas eu não tenho nenhum trabalho. Como monto meu porti…porti o quê?”

Olha só que coincidência, a dica 3 fala, justamente, sobre isso. Leia com atenção, é a mais importante.

Dica 3 – Como montar e apresentar o meu portfólio?

Pra montar é preciso produzir, pra produzir é preciso criar. Mãos à obra.

O formato mais usado por estudantes na hora de fazer “trampos pra portifas” é o anúncio de revista, seja página simples ou página dupla. O que você vai fazer? Pegue um anúncio de revista real, da marca e produto que quiser, e tente fazer melhor ou, pelo menos, diferente.

Se você decidiu que quer ser diretor de arte (não se empolgue com o título de diretor), seu dever é mexer na direção de arte (duh), ou seja, na imagem, foto, ilustração etc. Pense numa nova solução para aquele layout. E se especialize em softwares como Photoshop, Ilustrator e InDesign, no mínimo. Mas você pode ir além. Não se limite aos anúncios. Crie formatos e direções de arte não-publicitárias também. Abuse dos efeitos gráficos e fique atento às tendências. Os caras querem ver se você, realmente, sabe utilizar as ferramentas desses softwares.

Se você é cabeça-dura e resolveu ser redator, o processo é o mesmo. A diferença é que seu dever é mexer no texto do anúncio escolhido. Crie novas opções de títulos e slogans, mude o texto. Em outras palavras, escreva muito. Para ser redator não tem muito segredo, é exercitar a escrita. E você também pode ir além dos anúncios. Teve uma boa idéia pra um comercial? Faça um roteiro (na internet é possível achar alguns modelos). Escreva textos aleatórios, sobre qualquer tema.

Agora, você deve estar pensando “Mas se eu mudar só a arte e mantiver o texto, a peça vai ficar estranha, sem sentido.” Ou “Mas quero ser redator. Não sei mexer em layout. Como vou alterar a peça?”

Aceita mais uma dica? Essa é por conta da Casa, hein: arrume um amigo(a) pra duplar com você. Comecem a fazer seus portifólios juntos. Trabalhem como uma verdadeira dupla de criação. Pode ter certeza que os resultados serão muito melhores.

Outra maneira de rechear a sua pasta é na própria faculdade. Aproveite as aulas práticas relacionadas à Criação e mande ver nas peças.

Pronto. Vamos considerar, agora, que você já tem um número razoável de peças criadas e produzidas. Qual o próximo passo? Juntar tudo e levar para algum Diretor de Criação olhar? Claro que não. Primeiro você vai selecionar para apresentar apenas as melhores. Mostre os trabalhos para as pessoas – amigos, parentes e, principalmente, professores da faculdade – e perceba quais elas mais gostam, quais surpreendem mais, quais as fazem abrir aquele sorrisinho que você tanto esperou quando pensou naquela sacada.
Como a essa altura já consideramos que você tenha feito, pelo menos, uns 25 trabalhos, vamos chamar essa fase de pré-seleção. A seleção mesmo quem faz é você. No site do Clube de Criação de São Paulo, é possível encontrar o Manual do Estagiário, por Eugênio Mohallem (vale a pena ler). Resumindo, ele orienta que você faça o seguinte: selecione, em média, 10 trabalhos e os coloque em ordem crescente de qualidade, começando pelo meia-boca:

1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10

Depois, pegue o último (o melhor) e coloque na frente de todos.

10, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9

Segundo Mohallem, sua pasta que impressiona está pronta. Abre com um grande anúncio, seguido de uma ordem crescente de qualidade.

Particularmente, não sei se essa é mesmo a melhor maneira. Já fiz muito isso, mas também já fiz diferente. A última vez que apresentei meu portifólio fiz o seguinte: levei de 10 a 15 trabalhos (mais que 15 já fica, realmente, cansativo pra quem analisa); coloquei, sim, o melhor na frente de todos (acredito fielmente que a primeira impressão é a que fica); mas fui variando a seqüência entre os outros melhores e os piores; fechei a pasta com o segundo melhor. Acho que deu certo. Enfim, são duas opções. Mas você pode criar a sua também. O importante é que você acredite e confie nos seus trabalhos.

Dica 4 – Portifólio on-line

Essa é mais curta. Se houver a possibilidade, faça um portifólio on-line. Isso mesmo, crie um site seu ou, pelo menos, um HTMLzinho. Hoje em dia, é muito comum as agências pedirem que você envie seus trabalhos por e-mail. E você não quer se queimar logo de cara, lotando a caixa de entrada do seu futuro chefe, quer? Para os diretores de arte, procurem softwares, como o Flash e pirem nas animações. Para os redatores, criem um blog. É simples e além de postar suas peças, você terá um excelente espaço para exercitar a escrita.

Pra terminar

Gostaria apenas de contar mais uma experiência minha.
Quando eu estava no sexto semestre da faculdade, fui assistir a uma palestra do Carlos Domingos, sócio da Age e um dos maiores criativos do Brasil. Resolvi levar minha pasta, na esperança de que, ao final da palestra, ele pudesse me atender e me dar umas dicas. Final do show, fui lá na frente e entrei na fila pra falar com ele. A maioria das pessoas estava lá para pedir estágio e tirar dúvidas. Quando chegou a minha vez:

- Fala, garoto!
- Eu quero te mostrar o meu portifólio.
- Mas você ta com ele aí?
- Ta aqui.

Acho que ele percebeu minha atitude de ter ido “armado” para a palestra e disse:

- Faz o seguinte – me deu um papel e uma caneta – escreve teu nome aí que eu vou dar pra minha secretária marcar um horário pra você ir lá na Age, aí a gente conversa com mais calma. – e me passou o telefone de lá.

No dia seguinte fiquei naquela dúvida “Ligo ou não ligo?”, “Até parece que ele vai passar mesmo o meu nome pra secretária. Foi só um jeito de me dispensar”. Resolvi ligar:

- Age, boa tarde!
- Boa tarde! Meu nome é Alessandro e…
- Ahhhh, já sei! Do Mackenzie, né? O Domingos já passou seu nome pra mim. Você pode vir aqui amanhã às 19h?
- Claro.

Cheguei em ponto na Age e tomei um leve chá de cadeira de uma hora. Nesse ínterim, fiquei conversando com o segurança que estava na recepção e ele disse:

- Caramba! Como você conseguiu horário com o Domingos? Foi indicação? Ele ta sempre tão ocupado.

Expliquei como tinha conseguido e o cara ficou espantado.

Passado o chá, eis que surge o homem. Sim, ele foi me receber na recepção. Não mandou que alguém me levasse até sua sala. Vestindo sapatos muito bem lustrados, jeans, camisa pra fora da calça e blazer preto (típica roupagem de publicitário), ele me pediu mil vezes mil desculpas pela demora, disse que estava em reunião, que essas coisas demoravam mesmo e tudo mais. Entramos na sala de reunião, me ofereceu uma água, um café, um refrigerante (eu recusei tudo) e começou a analisar as peças. E para minha surpresa ele gostou de todas as peças que eu achava que eram as piores e criticou as que eu achava melhores. Fez-me enxergar coisas que jamais perceberia, pois analisou as peças de uma simples maneira: essa dá campanha, essa não dá.

Não consegui o estágio, mas tirei algumas lições disso tudo. Aí vão elas:

1- Muitas vezes, na Publicidade, é necessário ser cara-de-pau e tomar atitudes que, normalmente, você não tomaria. Como essa de já ir pra palestra com o portifas na mão. Ninguém fez isso naquele dia.
2- Na sua vida de estudante e durante toda sua carreira, você vai se deparar com excelentes profissionais. E poderá se surpreender com as atitudes de alguns deles, como eu me surpreendi com a simpatia e atenção do Carlos Domingos. Tenho ele como ídolo profissional hoje.
3- Ao mesmo tempo você vai encontrar profissionais tão bons ou melhores, mas que são arrogantes, mal educados e que acham que você é um bosta, que nunca conseguirá chegar onde eles estão. Esses caras vão te humilhar e acabar com você e seu portifólio. Mas não deixe que eles acabem com o seu amor pela Publicidade.
4- Desde então, comecei a pensar à frente na hora de criar uma peça. Claro que procuro sempre soluções criativas, mas sempre paro pra pensar se o clichê e o simples não são as melhores soluções para o momento.

Enfim, espero ter ajudado com o mínimo de experiência que eu tenho nesse mercado e desculpe pelo gigantismo do texto. Acho que esse tema merecia. E se você chegou até aqui, aí vão alguns sites em que são divulgadas vagas de emprego e estágio para Marketing e Criação. Cadastre-se e sucesso. Sorte é para os fracos: InfoJobs, ClickJobs, Publicijobs, Catho, CIEE, Universia.

PS: lembra daquela pacata noite de segunda-feira no bar? Ela jamais voltará.

As idéias e opiniões expostas nos artigos são de responsabilidade exclusiva dos autores, e podem não refletir a opinião da Casa do galo.



Alessandro Alessandro Ribeiro, 24, é publicitário. Já foi redator do Submarino. Hoje é redator da iDeal Interactive e sócio da Carrossel Comunicação Integrada. Escreve para a Casa do galo às segundas-feiras.

aleribeiro13@gmail.com | http://www.obolacheiro.blogspot.com

Um comentário:

Anônimo disse...

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